As cotas e os brancos pobres
Qualquer
um que conheça a luta negra por cidadania sabe disso: no Brasil, só se
lembra da existência dos brancos pobres quando se trata de bloquear
alguma iniciativa em favor dos negros. O argumento "e os brancos
pobres?" é invariavelmente usado por gente que jamais se mobilizou em
defesa de pobre nenhum, de qualquer cor. A prova definitiva aconteceu
nos meses de abril e maio, a propósito
do julgamento de duas Ações Diretas de Inconstitucionalidade interpostas
pelo mesmo partido, o DEM, junto ao Supremo Tribunal Federal. A ADI 186
solicitava à Suprema Corte que declarasse inconstitucional o sistema de
cotas para afrobrasileiros no ensino superior, tal como já utilizado
por mais de 50 instituições, com resultados que apontam que a evasão
escolar entre alunos cotistas é menor que a registrada entre
não-cotistas e que as notas daqueles são iguais ou superiores às destes.
Um dos argumentos arrolados foi o de que o sistema de cotas deveria ser
social, e não racial, já que não se poderia discriminar os brancos
pobres. Na semana seguinte, o mesmo partido, em parceria com a Confenem
(Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino) interpôs a ADI
3330 pedindo a inconstitucionalidade do ProUni, que é justamente um
programa de ação afirmativa para pobres independente da cor.
Não se viu, na primeira semana de maio, uma única palavra de contestação
à ADI 3330 por parte daqueles que utilizaram, na última semana de
abril, os brancos pobres como argumento contra a ADI 186. Percebe-se a
hipocrisia? Ali Kamel, respondendo por email ao convite da Al Jazeera a
um debate sobre cotas raciais (que Demétrio Magnoli aceitou, mas ele
recusou), lembrava que há mais de 30 milhões de brancos na situação de
pobreza que atinge a maioria dos negros e se dizia defensor das cotas
sociais, mas omitia o fato de que seu livro Não somos racistas está
recheado de ataques ao Bolsa-Família, que é exatamente um programa de
transferência de renda para pobres independente da cor. Conclusão: ficou
demonstrado, caro amigo branco pobre, que aqueles que o evocam para
atacar as iniciativas de combate ao racismo não estão nem um pouco
preocupados com você.
Leandro Salvático
Engenheiro Bioquímico
Mestrando - Universidade de São Paulo
Concordo com você
ResponderExcluirEu sou apenas um garoto de 15 anos estudante de escola particular e que não passa nenhuma dificuldade econômica mas cota sociais beneficiariam mais pessoas que precisam do que cotas raciais?
Estou tentando formar minha opinião sobre esse assunto se puder me ajudar :) agradeço desde já